Programa Mais Médicos realizou mais de 18 mil consultas em Uberlândia

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Nove bairros que não tinham equipes de saúde da família, bem como comunidades rurais passam a ser contemplados com o atendimento

Em 24 de abril de 2014, a Prefeitura de Uberlândia apresentava à população e à imprensa os 13 profissionais que chegavam à cidade por meio do programa do Governo Federal “Mais Médicos”. Naquele momento, o secretário de Saúde, Almir Fontes, deu a seguinte declaração: “É nosso compromisso ofertar qualidade no atendimento à saúde da população. Estes profissionais do programa Mais Médicos vão aumentar o acesso à Atenção Básica com vínculo na comunidade”. Os dados divulgados pela coordenação da Atenção Básica, ao fim de 2014 demonstram que a expectativa do gestor se comprovou e com ganhos significativos à população que tem vínculo com esses profissionais.

De 1º de maio a 31 de dezembro, os doze profissionais cubanos e o brasileiro que integram o “Mais Médicos” realizaram 18.558 consultas, cerca de 2.300 consultas por mês. Todos os atendimentos foram prestados em unidades de Atenção Básica, que além do médico contam com outros vários profissionais: agentes comunitários, enfermeiros, técnicos de enfermagem, além do pessoal administrativo e de equipe multiprofissional de apoio (psicólogo, assistente social, dentre outros). Isso reflete diretamente na vida da população de Uberlândia e no atendimento na rede municipal de saúde. Ou seja, em Uberlândia, as pessoas que foram atendidas nestes pontos contemplados pelo Mais Médicos, têm os cuidados dos trabalhadores que convivem com a realidade do local onde atuam, conhecem a comunidade e, assim, evitam a necessidade de ir ao pronto-atendimento das Unidades de Atendimento Integrado, as UAIs.

Segundo a Organização Mundial de Saúde, 80% das questões de saúde podem ser resolvidos na Atenção Básica.

Com o Mais Médicos foi possível beneficiar nove bairros que não tinham equipes de saúde da família. Crescimento registrado também na zona rural, onde o salto de assistência Básica na Saúde chegou a mais de 4.630 moradores de 15 assentamentos e circunvizinhanças que tiveram garantidos seu direito de acesso a saúde pública com qualidade.

A coordenadora Elisa Toffoli explica que a admissão dos médicos permitiu reforçar a estratégia de saúde da família e atingir prioridades da gestão. “Ofertar o atendimento de equipes com médicos, enfermeiros e agentes comunitários a todos os grupos comunitários das diversas faixas etárias, em setores da cidade que ainda não dispunham desse benefício, representa compartilhar com a população um ganho viabilizado pela adesão de Uberlândia ao programa”, disse.

Foto: Secom PMu
Foto: Secom PMu

A adesão ao programa trouxe a necessidade de superar o processo natural de ambientação ao novo território e aos modelos culturais. Assim, na transição, os médicos foram recebidos e passaram a participar do dia a dia das equipes da Estratégia de Saúde da Família (ESF) na rotina de suas atribuições.  Tiveram o apoio multiprofissional com: psicólogo, assistente social, nutricionista e educador físico, sempre com o intuito de melhorar e diversificar a assistência, ampliando a possibilidade de resolução dos problemas dos cidadãos de sua área de cobertura.

O homem do campo e a visão total do indivíduo

Yunior Alfonso Hurtado de Mendoza, 34 anos completados neste janeiro, deixou Santa Clara, na ilha de Cuba, e trouxe seus conhecimentos em Saúde da Família para o cerrado. Duas vezes por semana, ele está nos assentamentos de Rio das Pedras e Tangará atendendo nas unidades inauguradas em agosto. Além disso, ele ainda realiza consultas aos moradores dos assentamentos Dom Mauro, Carinhosa, Taperão, Campo Brasil, Valci dos Santos, Florestan Fernandes, Palma da Babilônia, Nova Palma e Zumbi dos Palmares.

De sorriso fácil, apesar da timidez, é fácil entender as razões pelas quais Yunior tem a confiança das milhares de famílias que ele cuida. Ele diz que desde a infância já pensava na medicina, atender as pessoas e no serviço público. “A medicina é uma ciência muito humanizada. E estou feliz como a Atenção Básica está tratando o indivíduo aqui. A visão é de um todo: o cidadão é visto nas suas condições psicossociais, pelas suas ligações de uma forma integrada e a política pública nos mostra assim: ver o indivíduo de forma ampla”, disse.

Exercendo sua atividade na zona rural de Uberlândia, uma das partes do município em que o atendimento médico e odontológico regular só chegou nos últimos dois anos, Yunior  fala sobre as pessoas que vivem nesse pedaço de uma cidade com vocações de polo regional, mas que ainda guarda traços das Minas Gerais de outros tempos. “A gente daqui é simples. É sincera. As pessoas mais velhas nos cumprimentam de uma forma muito carinhosa. Fala da família, conta sua história. Derrubar as barreiras com o paciente é fundamental para o atendimento à saúde”, disse. Ele ainda completa afirmando que, muitas vezes, o médico fica em um status muito alto frente ao paciente e eliminar essa distância só traz benefícios.

Quando vivia na América Central, o médico que participou também de um programa similar ao Mais Médicos, na Venezuela, chamado “Missão Barrio Adentro”, ouvia os sons do Brasil. “Alexandre Pires, sempre ouvia. Vim descobrir que ele era de Uberlândia quando vim morar aqui. Hoje ouço forró, sertanejo. Gosto daqui. Minha família está de férias no Brasil e eu pretendo que eles venham viver aqui comigo”, conta o pai, marido e médico com orgulho do trabalho pela saúde da gente uberlandense.

A população mais próxima dos especialistas em saúde da família

Viviane Aparecida Munhoz Silva aguardava, às 8h30 da manhã, na porta da unidade de saúde. Com ela, dois filhos. Uma garota de oito e outro de seis, que já entrava para o atendimento odontológico. O caçula da família, de um ano e dois meses, ficou em casa. À frente de Viviane, outras seis mulheres e um senhor de idade aguardavam pela consulta no assentamento Rio das Pedras. A paciente que agora é acompanhada por um profissional cubano disse que sempre buscava atendimento na UAI Luizote, mas agora pode realizar a consulta perto da sua casa, na zona rural. “É bom ter o médico por aqui. Ele é atencioso e fica muito mais fácil conseguir a consulta por aqui”.

Terezinha das Graças estava feliz: esperou pouco tempo pelo atendimento. “Antes do programa Mais Médicos chegar até a comunidade era difícil ter continuidade nos atendimentos.  A troca de profissionais na unidade me trazia desgosto, é importante para quem consulta a segurança de ser acompanhado pelo mesmo médico. As pessoas precisam desenvolver confiança com o médico que as acompanha”, explica.

Para o vendedor Edson Ribeiro, atendido na mesma unidade, os cubanos são médicos envolvidos e interessados nas particularidades do paciente. “Notei o envolvimento de quem me acompanha e senti aqui um interesse real pela minha saúde. Existe clareza e objetividade nas orientações que recebo nas consultas”, disse. Edson conta que o Mais Médicos foi um dos melhores investimentos que a Prefeitura de Uberlândia fez nos últimos tempos.

Adepta da visão multiprofissional, vivenciando a fase de conhecer e memorizar a história pessoal e familiar de cada um de seus pacientes, ainda um pouco admirada com os elogios e agradecimentos inesperados a cada consulta atendida, a médica cubana Zhenia Viltres de Peralta aderiu a proposta do Mais Médicos pela possibilidade de exercer a medicina com uma abordagem humanizada. “Nossa educação profissional é voltada para atuar junto às pessoas que precisam de cuidados. Entendo que a solidariedade com que encaro esse trabalho faz dele uma ferramenta que ajuda a cuidar da população em qualquer circunstância que ela estiver. Quando trabalho com o paciente como um indivíduo, me realizo”, explicou a médica enquanto assinava a receita na primeira consulta de uma cidadã do Patrimônio.

Decorridos dois meses de atuação na unidade e já completamente à vontade para orientar e acolher seus pacientes no bairro, Zhenia conta ainda, que foi bem acolhida e mesmo lidando com pacientes de diferentes níveis educacionais não teve dificuldade. “Encontrei na rede municipal de Uberlândia além da hospitalidade dos colegas, o mesmo modelo de conduta médica com que eu lidava na minha comunidade de origem”, afirmou.

Foto: Secom PMu
Foto: Secom PMu

Uma ação que salvou uma vida

O momento da angústia chegou como um ladrão na rotina da família do pequeno Mateus de 04 anos. Durante o turno escolar a criança sofreu um desmaio que evoluiu para perda dos sinais vitais. A criança socorrida em uma unidade da Estratégia de Saúde da Família foi imediatamente acolhida por um médico cubano recém-chegado à unidade. O fato aconteceu no segundo semestre de 2014. José Antonio da Paz, pai do garoto, conta que se tratava de uma emergência grave que, após os primeiros socorros da equipe de plantão, exigia uma conduta precisa e disponibilidade de recursos extras. Neste momento a mãe, Claúdia Batista Marques, se emociona recordando o desespero vivido pela família a caminho da UAI Morumbi. Ela conta que o médico permaneceu firme aplicando manobras para manter Mateus vivo até seu encaminhamento a uma unidade de saúde aparelhada para atendimento de emergências.

Inesperadamente, o caso do menino Mateus ganhou destaque e repercutiu na comunidade do bairro Alvorada. Sem economizar gratidão à solidariedade dispensada pela equipe de saúde da família.

Wender Oliveira se mostrou espantado pelo fato de receber um diagnóstico com rapidez e evidencia a melhoria do serviço prestado. “Repercutiu na melhoria do meu quadro de saúde logo após a primeira consulta. Nas últimas visitas que fiz a unidade notei melhorias também no atendimento de forma geral”, disse.

Atuando em lados opostos de Uberlândia, mas compartilhando uma opinião semelhante sobre os primeiros momentos vividos com seus novos pacientes no bairro Custódio Pereira, a médica Yudelmis Consuegra Tamayo enxerga que o caminho para a qualidade na saúde passa pelo modelo de medicina focada de forma integral no paciente em que o aprendizado tem suas bases na atenção básica à saúde familiar. “A primeira ação foi conhecer os problemas coletivos da comunidade, depois investir em uma aproximação com o paciente que facilita planejar ações mais efetivas de tratamento e prevenção de doenças”, disse.

Perguntada sobre obstáculos de adaptação ao trabalho, lembrou um episódio em que foi questionada por um paciente que insistia em conhecer detalhes de seu currículo e experiência profissional antes de se consultar. “Algumas pessoas precisam de mais tempo para obter confiança e relatar problemas de saúde específicos de algumas especialidades médicas”, conta a médica. Agora, com o Mais Médicos fortalecido, a história é outra e a população vive com mais saúde.

Secom PMU